sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Quase...

Já que estamos em onda de desabafos, deixo-vos o meu nas palavras de Sá-Carneiro...

"Um pouco mais de sol - eu era brasa.
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz?Em vão...Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d'espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo...e tudo errou...
- Ai a dor de ser quase, dor sem fim -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos onde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar o mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje de mim só resta o desencanto
Das coisas que beijiei mas não vivi...


Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém..."